As dúvidas e angustias de uma mãe de primeira viagem quando descobre que o seu tesouro é especial...

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O CM e a ira da mãe...


Ontem publiquei isto no Facebook. Mas acho que o assunto merece um bocadinho mais da minha atenção e consequentemente uma análise detalhada. E por detalhada entenda-se que este "artigo", escrito neste "jornal" por este "doutor" vai ser devidamente sujeito a escárnio e achincalhamento, mãe-do-Diogo style.
Ora leia-se então:



Ora aqui vai:
- "Este autismo trás uma dificuldade de interação social na relação entre os seus pares e com os adultos, uma dificuldade de comunicação e uma limitação na integração da informação." Quem lê fica a pensar que este autismo é coisa que se pega. Do género, "se me sentar na mesma cadeira que aquele autista ainda apanho este autismo dele". Até podia ser o outro autismo, mas não, é este. (pausa para revirar os olhos...) Relação entre pares e adultos? É pá, tenho uma novidade! Sabem, é incrível, mas há autistas adultos. E limitação na integração da informação? Olhem que o problema é o oposto! Há demasiada informação a ser integrada, muito mais do que o que seria desejável! Como explicar? Imaginem que chegam a casa ao final do dia, cheios de fome e com muita coisa para fazer: a primeira coisa é ligar as luzes e a TV para fazer companhia, depois a torradeira e a chaleira elétrica para o chá. A seguir, e enquanto o lanche se faz, tratam de pôr a máquina da roupa a lavar, ligam o forno e o fogão (eléctrico) para fazer o jantar, o computador para ver o FB e... E o quadro? Dispara pois claro! É isto que se passa no cérebro de uma pessoa com autismo: eles conseguem processar muitas fontes de informação ao mesmo tempo. E tal como o quadro, de vez em quando disparam porque sobrecarregaram, porque ultrapassaram o limite máximo de processamento.

- "Esta limitação trás uma ausência do reconhecimento da parte das emoções". Mas o que é que o cu tem a ver com as calças?

- "Há autistas que não são tão severos e conseguem comunicar (ter linguagem)". Não são? São menos exigentes, inflexíveis, rigorosos, austeros e rígidos, é isso? (Sarcasmo jorra de mim neste preciso momento...) Para vossa informação, a linguagem falada não é a única forma de comunicação, nem de perto! Quem é mãe sabe disso! Não é preciso muito para olhar para um filho e saber que alguma coisa não está bem, mesmo que ele não o diga! Então e a comunicação não-verbal? As expressões faciais e a linguagem corporal? Não contam como comunicação?

- "O autista em muitos casos não consegue comunicar mas também não consegue aprender". É pá, vocês segurem-me. Vocês segurem-me que eu vou-me a ele! NÃO CONSEGUE APRENDER? Mas onde raio é que esta gente tira a porcaria dos cursos? Vem nos pacotes de Nestum? Não consegue aprender? É por isso que a porra da sociedade está como está! Então se os supostos médicos dizem barbaridades destas como é que é suposto os demais entenderem o que quer que seja? Só falta neste artigo algo do género: "se é autista não aprende, logo deve manter-se em casa, de preferência fechado em gaiola ou estilo bibelot em local onde não incomode (de preferência longe da janela!)". Carai...

- "Enquanto nós conseguimos ver e ouvir um estímulo e integra-lo ao mesmo tempo, no autista isso é difícil. A integração do estímulo ao mesmo tempo visual e auditivo é algo que acontece raramente." Mais uma vez, discordo. Um autista consegue prestar atenção a várias fontes de estímulo em simultâneo, do género, estar a ouvir a conversa de alguém e a televisão da sala e o carro que passou na rua enquanto vê um livro AO MESMO TEMPO! Por isso é que acontecem as sobrecargas! Não é porque não conseguem integrar os estímulos, é porque os processam em simultâneo.



Suspiro.
A minha tensão arterial não merece que eu a trate assim.

Conselhos ao senhor "doutor", à Clínica que o emprega e ao pasquim que o publica:
- Primeiro, consultem um professor de português. Conheço vários, se quiserem. Fica a Dica... (não a da semana, que by the way, que consegue ter mais qualidade que muitos...)
- Segundo, se não sabem do que estão a falar, é pá, CALEM-SE! É que por incrível que pareça, ainda há gente que lê o CM e não vão aprender nada com artigos destes. Não é por acrescentarem umas letritas antes do nome de alguém que faz com que tudo o que sai daquelas cabeças seja pérola! Ás vezes é caganita.
- Terceiro e por fim, RESPEITO. Respeitem quem tem autismo, respeitem as famílias de pessoas com autismo porque elas estão fartas de teorias de cocó e a última coisa que precisam é de mais desinformação a chegar ao público. Fiquem-se por artigos sobre lipoaspiração e cirurgia plástica dedicados à fina sociedade que trata os filhos por você e que nunca tirou uma fralda cagada na vida. 


9 comentários:

  1. Sou mãe de um menino autista e este artigo é uma grande cagada.... e em relação á mãe que escreveu .... muitos parabéns concordo consigo a 1000%.

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  2. Sofia: nao leio "Correio da Manhã ". Deixei de ler há 4 anos quando estava grávida precisamente pela sensibilidade que me acompanhava (hormonas da gravidez). Quando folheava o dito, só me apareciam notícias relacionadas com o abuso a crianças... nao aguentei. Definitivamente, tiraram muita "clientela" ao jornal de "O Crime". Li agora e acompanho a sua indignação. Como mãe de um menino autista, que desde os dois anos tem mostrado um desenvolvimento incrível, tudo por forca do nosso empenho, amor e cansaço ( mas recompensador)!nao se pode deitar assim por terra, por meia dúzia de linhas estapafúrdias, o esforço que nós, pais, fazemos diariamente para desmistificar os estereótipos da sociedade em relação ao autista. Não é uma doença! É um estado de espirito, uma condição de vida... e sim.... é recuperável! Enquanto lia o artigo, minha tristeza foi tanta que só me ria.... para nao chorar. Gente ignorante é outra coisa!

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  3. O CM é uma bosta e pronto. Em todos os níveis. Como diz a "My Babies" tirou a clientela ao "Crime" e só serve para estupidificar ainda mais as pessoas.
    Nunca tinha visto esta rubrica, mas também depois desta não quero ver mais nenhuma.
    Concordo inteiramente consigo e adoro a sua forma de escrever.
    Beijinhos

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  4. Estimada mãe.
    Dirijo-me a si porque acabei de ter conhecimento da suposta entrevista que saiu com o meu nome no CM.
    Antes de tudo o mais quero apresentar-lhe as minhas sinceras e profundas desculpas…a si e a todas as mães. Apresento-lhe estas desculpas acima de tudo porque essa é uma entrevista que NÃO dei e NÃO autorizei.
    De facto estou estupefacto com a descontextualização do que é escrito no jornal, como se por mim tivesse sido feito.
    Passo a explicar-lhe. Esta “notícia” ou pseudo artigo surge, pelo que percebi, na sequência de uma entrevista dada por mim e pela Psicóloga da equipa ao CMTV no início de novembro, no âmbito da divulgação de um jogo para crianças autistas.
    Se ouvir a entrevista poderá perceber a minha indignação por aquilo que foi passado para o papel. Tal levar-me-á a agir em conformidade para responsabilizar quem tal “artigo” escreveu utilizando o meu nome como se eu o tivesse escrito.
    Continuamos a acreditar que muito do que se afirma em relação às várias problemáticas se baseiam, muitas vezes, em citações académicas. Sei que viver as questões na realidade é bem diferente e como tal gostaria de convidar a mãe a estar presente comigo no CMTV (como forma de retratação pelo CM) para uma entrevista sobre o tema. Acredito que, sentindo diariamente o que é ter um filho com autismo, contribuirá para a sensibilização deste tema de uma forma mais relevante.
    Uma vez mais em nome de “nem sei quem” (porque o jornalista não se identificou e o meu primeiro impulso foi escrever-lhe e depois averiguar) queira aceitar o meu lamento por tal situação.
    http://cmtv.sapo.pt/programas/manha_cm/detalhe/conheca_este_jogo_desenvolvido_para_criancas_autistas.html
    Rafael Silva Pereira

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  5. Sr. Rafael, o meu nome é Sofia Gonçalves.
    A minha revolta, tal como citei, é em relação ao dito jornal. Eu vi anteriormente a reportagem que mencionou e inclusive numa das partilhas de uma amiga minha (tambem ela, mãe de autistas), referi que já havia ouvido declarações suas a respeito do tema contraditórias ao que foi publicado. E até, confesso que fiquei interessada em adquirir o jogo. Daí a minha surpresa e indignação. Mas o que nao gostei, foi durante a entrevista televisiva, o CM colocar legendas como "autismo é uma doença "... realidade: não é uma doença! Essas curam-se com medicação! É um síndrome, condição de vida, espectro, ou o que quer que seja. Tudo menos doente! Eu vivo essa realidade diariamente e o meu filho de 4 anos não é enfermo. Nos ultimos dois anos, passou de um quadro clinico de autismo severo para um estado atípico dentro do espetro autista. E atualmente, ele PERCEBE TUDO o que nós lhe falamos e fazemos! E de forma verbal e nao verbal protesta quando é contrariado nos seus interesses. Quem é mãe e pai destes seres maravilhosos, ao longo dos anos vai estabelecendo uma comunicação intrínseca com eles. Há um despertar algo espiritual para a vida. Eles ensinam-nos a descobrir o que é o Amor incondicional! Gostei do seu gesto, de informar e pedir desculpas. O que reforçou a minha opinião sobre os Media. Nao leio jornais, nao vejo telejornais (mas nao é por isso que me torno inculta). Apenas vi, que me tornei uma pessoa mais "leve" e mais tolerante com os que me rodeam. Um bem haja!

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  6. My Babies muito obrigado pelas suas palavras. Também as legendas são escolhidas pela produção. Quem é entrevistado só tem conhecimento, infelizmente, quando vê o programa.
    Contudo esta situação está já a ser acautelada para apurar responsabilidades.
    Uma vez mais obrigado um bem haja.
    Rafael Pereira

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Tenho que falar... senão dou em doida!

Todos dizem que está tudo bem mas o meu mundo desaba num segundo... Decidi escrever um blog (porque não?), onde vou desabafando e limpando a alma.

Quantos pais não estarão na mesma situação? Ter um filho diferente e não ter certeza de nada? Receio do futuro? E quanta ansiedade muitas vezes não significa NADA? Ou seja, passar 5 ou 6 anos com o coração nas mãos e depois está tudo bem, era só "uma questão de ritmo"? No meu caso, ainda continuo com a malvada incerteza, mas quem sabe...

E porque não desabafar aqui também? Terapia gratuita...
comentários, agradecem-se!