As dúvidas e angustias de uma mãe de primeira viagem quando descobre que o seu tesouro é especial...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Os tipos de birras

Todas as crianças fazem birras. Bem, agora que penso nisso, todos os adultos também, apesar de alguns não o admitirem!

No entanto, as birras não são todas iguais. Quem não tem filhos não entende uma birra. E para quem não tem filhos diferentes, ver uma birra de uma criança autista pode ser um misto de emoções, que vão desde o desprezo pelos pais que não conseguem segurar a criança até mesmo à vontade de participar na "luta" e pregar dois tabefes à criança para ensinar aos pais como se faz. Mas como distinguir?

Passo a explicar: uma birra dita "normal" aparece normalmente quando negamos qualquer coisa a uma criança. Se prestarmos atenção, a criança olha disfarçadamente para avaliar a reacção dos pais à birra e tem cuidado para não se magoar durante o processo. Se for num local público, melhor, já que as crianças entendem que os pais resolverão a situação mais rápido para evitar constrangimentos. Podem incluir suster a respiração até ficarem roxos, espernear no chão e uma gritaria desalmada! Normalmente a birra pára com a mesma naturalidade com que começou e deixa nos pais a sensação nítida de que foram manipulados. E foram...

Nas crianças autistas também aparecem as birras normais. Mas frequentemente estas atingem um determinado patamar e a criança tem dificuldade em parar. Durante uma destas birras (a que os americanos chamam meltdown) a criança não olha para ver a reacção do que está a fazer e não se preocupa com a própria segurança. Isto implica que muitas vezes a criança bate com a cabeça no chão e pode bater em móveis ou outros objectos e magoar-se a sério. A perda de controlo é total e é independente do local e da "plateia".

Cá em casa, estas birras são frequentes. São situações frustrantes, porque não há nada que se possa fazer para acalmar a peste. Nada funciona: abraço, carinho, palmada, distrair para outra coisa, nada... Parece um cenário de guerra: é muito barulhento, há coisas a voar, tenho vontade de bater em alguém e uma sensação de desespero misturada com frustração crescente. Acabam normalmente após 45 minutos (mínimo, já conseguimos o record de 2 horas nisto), com todos exaustos e com lágrimas à mistura.

Foi com alguma surpresa, ou talvez não, que encontrei cartões de birra autista na net. Alguém teve a "brilhante" ideia de imprimir cartões de sensibilização, que entrega durante uma birra a quem fica feito PARVO a olhar para os putos aos gritos. Claro que alguns são pagos, o que quer dizer que é mais uma maneira de ganhar dinheiro à custa dos pais que têm tão pouco onde gastar dinheiro...



4 comentários:

  1. Isso traduz-se e imprime-se fácilmente.
    Os meus, que não tinham nada disto, agora deram para ter meltdowns bastantes vezes.
    Quando estiveram doentes, estiveram os dois assim AO MESMO TEMPO.
    Lá os consegui acalmar no abençoado baloiço do Ikea (um de cada vez, enquanto um fazia timtão como se não houvesse amanhã punha o outro no baloiço e vice-versa.
    Depois foram para o quarto deles, tudo às escuras excepto uma lâmpada led que muda de cores, e um projector de estrelas daqueles dos bebés.
    Adormeceram e pronto, lá acalmaram....
    Agora ao ar livre, bem... se alguém olhar, faço birra também. Juro-te! Quero lá saber! Chamem a polícia a ver se me importo!

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  2. Quando tiver um tempinho faço-te uns cartões, ok?!
    bjs

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  3. eheh... o único cartão que eu precisava era o meu punho na cara de algumas pessoas (não me esqueço da outra parva aos gritos no meio da rua a oferecer porrada ao garoto...)
    bjocas

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  4. Eu já tive desses cartões - que fiz e imprimi - e deitei fora. Apesar de eu me sentir tentada a justificar-me perante as pessoas, NÃO TENHO DE O FAZER!!!!!!!!! Nenhum adulto, nenhum pai ou mãe de criança normal me veio alguma vez pedir desculpa pelas birras que o filho fez - e eu já assiti a algumas e foram birras normais. Logo, eu não o farei. Eu não dou palestras de autismo nem preciso que o olhar do "que mãe desnaturada sem regras que não sabe dar educação" passe a ser "coitada desta mãe de gémeas que é tão coitada que tem duas filhas atrasadas". Não preciso, dispenso, e, no final d euma birra autista porque a outra resolve-se bem, eu estou de pior humor que elas, logo, também precisaria de justificar os meus comportamentos...

    Quanto a records, já bati o teu, em 2009: 2 dias. não estou a exagerar. Lê o meu post sobre isso. Foram dois dias de gritos, agressões, choro, guinchos, medos, olhares vazios e vidrados, sonso de apenas 15 minutos, noites sem dormir, mais agressões, vizinhos abter à porta e idas para o hospital. Não houve nada a detetar, nada. Eu nem sabia o que se pssava pois nem desconfiava de autismo. O diagnóstico foi birra sim ,mas nada que andasse perto de birra autista. E só alguem acreditou em mim porque eu entrei no gabinete da médica com uma miuda a espernear ao colo e a outra de arrastão por um braço a gritar tanto que todas as portas se abriram para ver o que se passava... Chorei amargamente a minha vida nesses dias... Soube sempre que essas birras eram diferentes mas eu não tinha um nome nem uma estratégia para lidar com isso. Hoje já tenho. Hoje uma birra dessas, com niveis de descontrolo totais, dura cerca de 30 a 40 minutos e não 2 dias.

    Á medida que ele vai crescendo e arranjando a sua maneira de se regular, as coisas vão melhorando. Demora mas vai melhorando. Pouquinho de cada vez e com algumas recaídas, mas melhorando...
    esquece os cartões e sê tu mesma com aquilo que tens; os outros que olhem para o lado. E se alguem ousar pensar em intervir, terá certamente o melhor advogado de Coimbra à perna por todos os motivos e mais alguns. e eu não me segurarei porque eu não interfiro nas birras de má educação dos filhos dos outros. Ponto.

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Tenho que falar... senão dou em doida!

Todos dizem que está tudo bem mas o meu mundo desaba num segundo... Decidi escrever um blog (porque não?), onde vou desabafando e limpando a alma.

Quantos pais não estarão na mesma situação? Ter um filho diferente e não ter certeza de nada? Receio do futuro? E quanta ansiedade muitas vezes não significa NADA? Ou seja, passar 5 ou 6 anos com o coração nas mãos e depois está tudo bem, era só "uma questão de ritmo"? No meu caso, ainda continuo com a malvada incerteza, mas quem sabe...

E porque não desabafar aqui também? Terapia gratuita...
comentários, agradecem-se!