As dúvidas e angustias de uma mãe de primeira viagem quando descobre que o seu tesouro é especial...

sábado, 28 de abril de 2012

Podia ser pior? Podia...


Com quase 34 anos, e devido à eminente passagem definitiva para o lado da loucura, eis que dou comigo a pensar na vida (é verdade, de vez em quando também penso!):

Sou professora, ou melhor, gostava muito de ser professora. Mas o país está em crise e os lugares nas escolas estão a diminuir... os primeiros a sair são os mais novos (mesmo os que têm aquelas avaliação de desempenho de fazer cócegas a muitos! Sim, gabarolice também faz bem ao espírito...).
Estou desempregada, pelas razões supra-citadas,  e recebo o belíssimo apoio do estado que chega para pagar a mensalidade do infantário e parte da renda da casa. Bem, podia ser pior...

Estou longe da minha família, sozinha numa cidade estranha com o meu marido e filho. Vejo os meus pais de dois em dois meses (quando tenho sorte) e o resto da família... bem, já nem me lembro quando vi o resto da famelga. Tenho saudades do meu irmão, da minha tia e da minha casa (que já nem é minha...), mas admito que podia ser pior.

Gosto de gatos, ou melhor, adoro gatos. Mas não gosto de ter a casa coberta de pelo, as plantas arrancadas e/ou mastigadas, brinquedos de gato pela casa toda... Gosto de agulhas, de costura, entenda-se. Não gosto quando a gata me rouba os novelos e o Diogo me tira tudo da caixa e espalha pela casa. Gosto de cactos, de mexer em terra e vê-los desenvolver, mas não sou grande fã dos espinhos em gancho, são uma seca para tirar.  Não tenho vontade de passar a ferro, odeio passar a ferro! Tenho a casa em estado de sítio, mas estou bem a borrifar-me para o assunto. Assim como assim, amanhã ainda estou desempregada, pode ser que a vontade apareça...

Sou mãe, do muitíssimo desejado e planeado Diogo, que todos os átomos do meu ser amam incondicionalmente. Mas o Diogo vê o Mundo de maneira diferente. É uma criança adorável e linda mas que grita constantemente porque não sabe lidar com a frustração. Compensa com o "colito mãe" e com o "deita mãe" ou com a brincadeira do "não, sim, não, sim...". É um menino que exige atenção constante, sempre, mesmo durante a noite, pelo que não sei o que é dormir numa cama ser ser a três. Ando constantemente cansada, apesar de muitas vezes me dizerem "que sorte, estás desempregada, fartas-te de descansar!" ou "não dormes é porque não queres!".

Não consigo estar perto de outras crianças, pelo menos não por muito tempo e nunca se o Diogo também estiver. Não é aversão aos filhos dos outros... é uma dor imaginária que naquele momento me mata um bocadinho mais, por ver aquilo que o meu filho não é e aquilo que o meu filho não faz. E sobretudo, não consigo ouvir as comparações inevitáveis do género "o meu já faz, o teu ainda não?". Não significa que não goste deles, o que eu não gosto é de não poder entrar no jogo predilecto de todas as mães orgulhosas... porque mesmo inconscientemente, eu perco sempre... e isso dói, muito...


Podia ser pior? Podia, de infinitas maneiras, eu sei... Mas isso é um consolo fraco para quem tem que viver a minha vida.


Aos pais que passam por aqui: 
Estou aqui, ajudo todos os que precisam de ajuda, se estiver ao meu alcance. Quando digo que o Mundo ainda não acabou, não estou a brincar. Sei o quanto custa pensar que temos um filho diferente, porque não conseguimos imaginar como será o seu futuro. Preparem-se para a luta, nunca baixem os braços! Mas permitam-se um momento como este, em que desabafem as vossas mágoas, quebrem e chorem se preciso. Aliviem o vosso coração aflito durante um momento e respirem fundo, porque as forças voltam redobradas e ganham força para seguir em frente. Além disso, se a vida fosse fácil, não tinha piada, pois não?





13 comentários:

  1. Olá, Daniela!
    Eu sou uma mãe que passa aqui no blog diariamente para ver se há novidades... Já faz parte da minha rotina. Os vossos blogs (este, T2 para 4, rainbow mum, e meu mundo teu mundo) tem sido uma companhia!. Também estou desempregada, desde que o meu filho nasceu (há 2 anos). É uma situação muito dificil, não só pela questão financeira, mas principalmente porque sinto um peso enorme em cima, em relação a tudo o que diz respeito ao meu filho... sou eu trato de tudo,fraldas, comida, higiene, consultas, terapias, etc. O meu marido acha normal porque afinal eu não trabalho... e ele sim! Já para não falar no diagnóstico, como o meu filho (J.) esteve em casa até aos 18 meses e porque o pai trabalha muito até aos fins de semana, eu é que me deparava com os comportamentos desviantes, estranhos para mim, o meu marido achava que era tudo exagero, assim como a familia dele que só nos vê de mês a mês durante um fim de semana ou uma tarde... Enfim o diagnóstico foi, para mim, um alívio porque agora o compreendo melhor e vou sabendo como agir e também porque essa parte da família percebeu que afinal não sou completamente doida!
    Também sinto o mesmo quando estamos com outras crianças, fico muito deprimida, porque percebo que ele nunca vai ter um desenvolvimento dentro dos parametros normais e também porque, se até agora as outras pessoas não notavam muito porque davam o tal desconto de "uns desenvolvem mais cedo umas coisas e outros outras", neste momento já acham muito estranho ele não dizer palavra e ser "arredio" com toda a gente...
    Apesar de todos me dizerem que já se nota uma evolução positiva, que eu vejo, ultimamente tenho andado em baixo, cansada, porque como já disse não me sinto muito apoiada e... ele ainda não diz uma única palavra!!! mas quando é que ele começa a falar!?!?! Para agravar o meu estado de espirito ontem começou a transportar objectos ou melhor a pegar numa peça de lego ir dar uma volta à cozinha e voltar para a sala, trocava a peça e fazia o mesmo... tudo sem significado aparente...que raio! há muito tempo que não fazia algo do género!
    Muitas vezes para me consolar tenho esse pensamento "podia ser pior, tantas doenças terríveis que existem"!
    Isto tudo para desabafar e agradecer as tuas palavras. Obrigada!
    Beijinhos e tudo de bom!
    Catarina

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    1. Olá Catarina, tambem sou uma mae que passa por este blog diariamente. E que sinto nas palavras da Daniela e este caso, nas tuas, o que me vai no coração. O meu filho tem 2 anos e meio e PEA. e sinto tal como tu, tudo igual. Tambem ando por aqui se precisares de desabafar, um beijinho, Sofia :)

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  2. Só alguém que passa pelo mesmo para entender o que vai no coração de uma mãe, não é? Já tens algum tipo de apoio para o pequeno? Manda-me mail que eu explico!
    Bjocas e obrigada por ouvires também
    Daniela

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  3. daniela eu sei que a vida de professora desempregada nao é facil pois eu tb estou na mesma situaçao mas nos sempre temos mais oprtunidades de emprego q os outros q nao tem formaçao,pelo menos falo por mim ate hoje nunca tive desempregada e tb nao estou n ensino publico...olha qianto ao teu pequeno eu tb tive fazes assim mas desde q começei a tratar o seu «autismo» tudo mudou pois nunca me conformei com diagnosticos de senhores de bata branca...e ele esta a reuperar..o importante é nao ficar de braços cruzados e procurar soluçoes..bj

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  4. Olá Daniela

    Sigo a tua história desde o PB, depois abriste o teu cantinho e por vezes venho aqui saber de vós. Infelizmente também eu estou desempregado e sei o que é viver 24h/24h com uma crianças, que apesar de ser o nosso bem mais precioso, por vezes consegue tirar a paciência a um santo, quanto mais a uma mãe. A patologia do meu menino é diferente, mas na essencia o que é importante está lá, ou seja a diferença, a indignação, a revolta, o desespero, o perder forças, o erguer os braços e lutar....tudo está lá.
    Como sei que é importante a partilha, deixo-te aqui o nosso grupo no FB, designado de "Partilha de Mães", o texto é da minha amida Dina (do Blogue Anjo de Luz):
    Sigo com muito interesse vários blogues mas tanto eu, como outras mães, estamos cada vez mais no Facebook.

    "Então lembrei-me que podiamos levar os nossos blogues, as publicações recentes e as mais antigas para o Facebook e criei o grupo "Partilha entre Mães".
    "A ideia e o nome do grupo, foram retirados do blogue criado pela Mãe Sisa «Partilha entre Mães» e pretende trazer os blogues de crianças especiais para o Facebook bem como informações úteis para o seu desenvolvimento, reabilitação e inclusão.
    Mantém o mesmo objectivo do blogue «Um espaço de partilha entre mães, pais, familiares e amigos de pessoas especiais, como os nossos filhos... Um espaço que se espera útil, para quem o lê»
    Sejam bem vindos!"
    Todoa juntoa podemos fazer a DIFERENÇA.
    Para aderir ao grupo envie o seu contato no Facebook para caminhacaminhando@mail.com"

    A ti e a todas as mães que queiram partilhar juntem-se a nós.

    Beijinhos grandes

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  5. P.S.: Deixei-te um miminho no meu blogue.

    Beijinhos

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  6. :) Obrigada, Cláudia! Verifica o email, parece que não está correcto!
    Bjocas

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  7. Oh amiga, subscrevo... E assino por baixo... Vou respirar um pouco, espera.

    Preciso de me acalmar antes que saiam torrentes de palavrões e tal.
    Acho que andamos todas numa fase dos diabos. Este tempo, as birras e os altos e baixos dos nossos filhos, a inconstância das suas evoluções e desenvolvimentos, as nossas situações laborais, bem, dá mesmo a sensação de que trazemos o mundo às costas...

    Amiga, força por aí que eu por cá vou torcendo por todos nós. Vou mandar-te mail brevemente com uma proposta (in)decente para um dia destes.

    beijos

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  8. Querida Daniela,

    As coisas podiam de facto ser pior, mas como sabemos com o mal dos outros podemos nós bem... É muito difícil passares por tudo isto longe da tua família, numa cidade estranha e ainda por cima estando neste momento desocupada. É que ao estarmos ocupadas a nossa cabeça sempre está preenchida com outras coisas. Vejo por mim, que qd ando atolada de trabalho nem tempo tenho para pensar em mais nada.

    Espero mesmo que no próximo ano lectivo tudo se resolva e eventualmente possas ir para Coimbra, estares perto da tua família e a trabalhar.

    Quanto ao Diogo, como já te disse muitas vezes não podemos para já traçar que será um menino com dificuldades no futuro. Lembras-te do caso da mãe da Madeira com quem troquei emails? O menino dela começou a falar aos 4 e hoje com 9 anos está óptimo e é o melhor aluno da turma, tem amigos e os sintomas de autismo praticamente terminaram. Andou na terapia da fala até aos 6 anos...

    Há que ter calma e esperar pelos 6/7 anos para entendermos melhor o prognóstico e até lá não nos resta outra alternativa senão pensar positivo e aproveitar todas as coisas boas que eles nos dão.

    Claro que é difícil estar sempre a lidar com uma criança com pouca resistência à frustação, que faz birras terríveis, que tem dificuldade em se comunicar... Mas a verdade é que se estivermos em baixo, irritadas, frustadas, deprimidas, tudo piora... Tenho sentido por exemplo com o meu que o facto de eu ter começado a encarar as coisas de outra maneira ajudaram muito a melhorar tudo. E não são só os nossos filhos que passam por fases menos boas! Este fds a minha vizinha estava a enlouquecer com a filha dela de 5 anos que é ainda pior que o meu filho e não tem nenhum diagnóstico!!! Se visses os gritos que aquela miúda dá, as birras, bate nos pais... Os pais até a levaram a uma psicóloga mas a criança não tem nada, apenas é uma miúda mais difícil que os outros... Para veres, dorme pouquissimo, acorda ao fds às 7 da matina e a mãe mete-a no carro para ir dar uma volta para ver se volta a adormecer :)

    E sinceramente, acho que o meu filho ao pé da dela é um anjinho :) Ontem a miúda meteu na cabeça que queria ir passear connosco pois viu-nos a sair de casa, e não havia modo de acalmar... Estrebuchava pelo chão de tal maneira que eu já estava quase para a levar comigo com pena dos pais que não sabiam o que fazer...

    Não são só os nossos Daniela! E quanto mais nós olhamos para eles como tendo problemas pior será...


    Minha querida, eu continuo a acreditar que eles vão melhorar muito sim. Não sei se serão um dia totalmente independentes, se vão ficar "normalizados"... Isso não te posso dizer... Mas acredito sim que se depender de nós eles serão muito felizes. E isso é o que mais importa.

    Beijos e já sabes quando quiseres vir a Lisboa aparece!

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  9. "Não é aversão aos filhos dos outros... é uma dor imaginária que naquele momento me mata um bocadinho mais, por ver aquilo que o meu filho não é e aquilo que o meu filho não faz..."
    Como eu te compreendo... ainda este sábado lutei pra segurar as lágrimas durante a aulinha de ginástica que as educadoras organizaram... mas não consigo NÃO IR porque a minha filha, apesar de tudo, acabou por se divertir e penso que só lhe faz bem a exposição a coisas diferentes.
    Vou aguentando e até engolindo olhares de "aquela deixa a filha fazer o que quer, que falta de educação"... tudo pela minha filha, quem tiver mal que se lixe... mas custa!!!

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  10. Olá Prima!!! Tudo bem? De vez em quando venho aqui ver alguns dos teus comentários e fico com alguma tristeza pois ás vezes gostava de estar mais perto para nem que seja para dar uma força pois sem bem pelo que passas não pelo desemprego que já de si é horrivel mas pelo Diogo que sei que tens andado numa luta para que tudo corra pelo melhor!!!
    Mas a vida é assim pois eu quero muito ter um filho e há dois anos que ando a tentar e nada já fiz exames e está tudo bem comigo e com o Carlos mas não quero desanimar pois penso ainda sou nova e Deus ade se lembrar de mim! Mas sabes as pessoas ás vezes sem querer ou por querer não sei andam sempre "então quando há bebés!!" ao qual eu ás vezes não quero pensar para não desanimar mas pronto o que eide fazer!!!!
    Por isso prima muita muita força eu sei que a tens e havemos de conseguir ultrapassar isto!!!! beijos fofos para todos

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    1. Oi! Não é fácil, e também sei o que é estar do teu lado, as pessoas falam por falar, não é por maldade... tem calma, vais ser uma mãe maravilhosa, só tens que relaxar e não andar sempre a pensar nisso! AH! e não te esqueças de ir aos treinos... :)
      Quando quiserem arejar, venham a Castelo Branco, há barragens com fartura, despachamos os gajos para a pesca, que dizes?
      Bjocas grandes e obrigada*

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  11. Olá daniela
    Vim aqui parar atraves de um outro blog.
    Fui lendo até chegara este post...fizeste-me lembrar uma situação que se passa comigo.
    Evito estar perto de gravidas...custa-me, deixa-me triste...não é por inveja, pelo menos aquela inveja de maldade, mas porque tento uma gravidez há 9 anos e nada de conseguir.
    Já agora a vida de mãe não é nada facil(tenho uma do primeiro casamento),imagino que ser mãe de uma criança especial ainda seja mais dificil
    Gostei depor aqui passar.
    Bom fim de semana

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Tenho que falar... senão dou em doida!

Todos dizem que está tudo bem mas o meu mundo desaba num segundo... Decidi escrever um blog (porque não?), onde vou desabafando e limpando a alma.

Quantos pais não estarão na mesma situação? Ter um filho diferente e não ter certeza de nada? Receio do futuro? E quanta ansiedade muitas vezes não significa NADA? Ou seja, passar 5 ou 6 anos com o coração nas mãos e depois está tudo bem, era só "uma questão de ritmo"? No meu caso, ainda continuo com a malvada incerteza, mas quem sabe...

E porque não desabafar aqui também? Terapia gratuita...
comentários, agradecem-se!