Ontem publiquei
isto no Facebook. Mas acho que o assunto merece um
bocadinho mais da minha atenção e consequentemente uma análise detalhada. E por detalhada entenda-se que este "
artigo", escrito neste "
jornal" por este "
doutor" vai ser devidamente sujeito a escárnio e achincalhamento,
mãe-do-Diogo style.
Ora leia-se então:
Ora aqui vai:
- "
Este autismo trás uma dificuldade de interação social na relação entre os seus pares e com os adultos, uma dificuldade de comunicação e uma limitação na integração da informação." Quem lê fica a pensar que
este autismo é coisa que se pega. Do género, "
se me sentar na mesma cadeira que aquele autista ainda apanho este autismo dele". Até podia ser o
outro autismo, mas não, é
este. (
pausa para revirar os olhos...)
Relação entre pares e adultos? É pá, tenho uma novidade! Sabem, é incrível, mas
há autistas adultos. E
limitação na integração da informação?
Olhem que o problema é o oposto! Há demasiada informação a ser integrada, muito mais do que o que seria desejável! Como explicar? Imaginem que chegam a casa ao final do dia, cheios de fome e com muita coisa para fazer: a primeira coisa é ligar as luzes e a TV para fazer companhia, depois a torradeira e a chaleira elétrica para o chá. A seguir, e enquanto o lanche se faz, tratam de pôr a máquina da roupa a lavar, ligam o forno e o fogão (eléctrico) para fazer o jantar, o computador para ver o FB e... E o quadro? Dispara pois claro! É isto que se passa no cérebro de uma pessoa com autismo:
eles conseguem processar muitas fontes de informação ao mesmo tempo. E tal como o quadro, de vez em quando disparam porque sobrecarregaram, porque ultrapassaram o limite máximo de processamento.
- "
Esta limitação trás uma ausência do reconhecimento da parte das emoções". Mas o que é que o
cu tem a ver com as calças?
- "
Há autistas que não são tão severos e conseguem comunicar (ter linguagem)". Não são? São menos e
xigentes, inflexíveis, rigorosos, austeros e rígidos, é isso? (Sarcasmo jorra de mim neste preciso momento...) Para vossa informação, a linguagem falada não é a única forma de comunicação, nem de perto! Quem é mãe sabe disso! Não é preciso muito para olhar para um filho e saber que alguma coisa não está bem, mesmo que ele não o diga! Então e a comunicação não-verbal? As expressões faciais e a linguagem corporal? Não contam como comunicação?
- "O autista em muitos casos não consegue comunicar mas também não consegue aprender". É pá, vocês segurem-me. Vocês segurem-me que eu vou-me a ele! NÃO CONSEGUE APRENDER? Mas onde raio é que esta gente tira a porcaria dos cursos? Vem nos pacotes de Nestum? Não consegue aprender? É por isso que a porra da sociedade está como está! Então se os supostos médicos dizem barbaridades destas como é que é suposto os demais entenderem o que quer que seja? Só falta neste artigo algo do género: "se é autista não aprende, logo deve manter-se em casa, de preferência fechado em gaiola ou estilo bibelot em local onde não incomode (de preferência longe da janela!)". Carai...
- "Enquanto nós conseguimos ver e ouvir um estímulo e integra-lo ao mesmo tempo, no autista isso é difícil. A integração do estímulo ao mesmo tempo visual e auditivo é algo que acontece raramente." Mais uma vez, discordo. Um autista consegue prestar atenção a várias fontes de estímulo em simultâneo, do género, estar a ouvir a conversa de alguém e a televisão da sala e o carro que passou na rua enquanto vê um livro AO MESMO TEMPO! Por isso é que acontecem as sobrecargas! Não é porque não conseguem integrar os estímulos, é porque os processam em simultâneo.
Suspiro.
A minha tensão arterial não merece que eu a trate assim.
Conselhos ao senhor "doutor", à Clínica que o emprega e ao pasquim que o publica:
- Primeiro, consultem um professor de português. Conheço vários, se quiserem. Fica a Dica... (não a da semana, que by the way, que consegue ter mais qualidade que muitos...)
- Segundo, se não sabem do que estão a falar, é pá, CALEM-SE! É que por incrível que pareça, ainda há gente que lê o CM e não vão aprender nada com artigos destes. Não é por acrescentarem umas letritas antes do nome de alguém que faz com que tudo o que sai daquelas cabeças seja pérola! Ás vezes é caganita.
- Terceiro e por fim, RESPEITO. Respeitem quem tem autismo, respeitem as famílias de pessoas com autismo porque elas estão fartas de teorias de cocó e a última coisa que precisam é de mais desinformação a chegar ao público. Fiquem-se por artigos sobre lipoaspiração e cirurgia plástica dedicados à fina sociedade que trata os filhos por você e que nunca tirou uma fralda cagada na vida.