Com quase 34 anos, e devido à eminente passagem definitiva para o lado da loucura, eis que dou comigo a pensar na vida (é verdade, de vez em quando também penso!):
Sou professora, ou melhor, gostava muito de ser professora. Mas o país está em crise e os lugares nas escolas estão a diminuir... os primeiros a sair são os mais novos (mesmo os que têm aquelas avaliação de desempenho de fazer cócegas a muitos! Sim, gabarolice também faz bem ao espírito...).
Estou desempregada, pelas razões supra-citadas, e recebo o belíssimo apoio do estado que chega para pagar a mensalidade do infantário e parte da renda da casa. Bem, podia ser pior...
Estou longe da minha família, sozinha numa cidade estranha com o meu marido e filho. Vejo os meus pais de dois em dois meses (quando tenho sorte) e o resto da família... bem, já nem me lembro quando vi o resto da famelga. Tenho saudades do meu irmão, da minha tia e da minha casa (que já nem é minha...), mas admito que podia ser pior.
Gosto de gatos, ou melhor, adoro gatos. Mas não gosto de ter a casa coberta de pelo, as plantas arrancadas e/ou mastigadas, brinquedos de gato pela casa toda... Gosto de agulhas, de costura, entenda-se. Não gosto quando a gata me rouba os novelos e o Diogo me tira tudo da caixa e espalha pela casa. Gosto de cactos, de mexer em terra e vê-los desenvolver, mas não sou grande fã dos espinhos em gancho, são uma seca para tirar. Não tenho vontade de passar a ferro, odeio passar a ferro! Tenho a casa em estado de sítio, mas estou bem a borrifar-me para o assunto. Assim como assim, amanhã ainda estou desempregada, pode ser que a vontade apareça...

Não consigo estar perto de outras crianças, pelo menos não por muito tempo e nunca se o Diogo também estiver. Não é aversão aos filhos dos outros... é uma dor imaginária que naquele momento me mata um bocadinho mais, por ver aquilo que o meu filho não é e aquilo que o meu filho não faz. E sobretudo, não consigo ouvir as comparações inevitáveis do género "o meu já faz, o teu ainda não?". Não significa que não goste deles, o que eu não gosto é de não poder entrar no jogo predilecto de todas as mães orgulhosas... porque mesmo inconscientemente, eu perco sempre... e isso dói, muito...
Podia ser pior? Podia, de infinitas maneiras, eu sei... Mas isso é um consolo fraco para quem tem que viver a minha vida.
Aos pais que passam por aqui:
Estou aqui, ajudo todos os que precisam de ajuda, se estiver ao meu alcance. Quando digo que o Mundo ainda não acabou, não estou a brincar. Sei o quanto custa pensar que temos um filho diferente, porque não conseguimos imaginar como será o seu futuro. Preparem-se para a luta, nunca baixem os braços! Mas permitam-se um momento como este, em que desabafem as vossas mágoas, quebrem e chorem se preciso. Aliviem o vosso coração aflito durante um momento e respirem fundo, porque as forças voltam redobradas e ganham força para seguir em frente. Além disso, se a vida fosse fácil, não tinha piada, pois não?